![SAMIM entrega armas capturadas aos terroristas em Cabo delgado](https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjRYNSd6fOg8XaR22IQerDpksyntbCvkav-fSutnjYD4kE8zcMJMss2RSEqUGpNqklBYYHTsy3tv3BQQJNVUr7y6LLBcB8ac2_jMm-tKC710w0_VnnfxV9Z_RfxJJgnZYYpSwnjJ2qIX9Kn3xxtGDMc1tgy-pOGf6r6B8ZZEBFqRKtFNRv88SFESiV78Ync/w640/samim-defesa.jpg)
SAMIM entrega armas capturadas aos terroristas em Cabo delgado
Diverso material bélico capturado nas mãos de terroristas durante diversas operações…
Diverso material bélico capturado nas mãos de terroristas durante diversas operações…
Os relatórios sobre a pobreza estão cheios de números que mostram que a miséria está a aumentar em Moçambique. O que esses documentos não mostram, são os rostos e as vivências pessoais por detrás desses números. Mas esta reportagem traz!
Um documento do Ministério da Economia e Finanças relata que a desigualdade social aumentou de 2015 para 2020. Usando o método Gini, explica-se que se saiu de 0,47 para 0,51. Este método diz que a desigualdade total é registada quando o índice de pobreza mostra 1 e o equilíbro quando é zero. Dito de outra forma, os ricos estão mais ricos e os pobres, mais pobres.
Por falar em pobres, falemos de Rita Amade, uma senhora de 50 anos de idade, residente nos arredores da cidade da Matola. Ela acorda todos dias com a incerteza sobre tudo.
Ainda assim, pela manhã, ela lava a louça sem saber qual vai ser a próxima vez que vai voltar a sujar. Vive uma vida que ela considera “difícil, está tudo difícil.”
Quando diz tudo, é tudo mesmo. Comecemos pela habitação: este é um assunto que a preocupa muito. Ao acordar, Rita tem de olhar para o céu para saber como será o dia e, antes de se deitar, olha de novo para saber se será uma noite de sono ou de esquivar-se da água chuva.
“Quando vejo que há nuvens, o meu coração dói porque, nessas circunstâncias, nesta casa, não se dorme, passamos a noite em pé”, anota a senhora enquanto ajeita a louça no interior da casa.
Mesmo quando não chove, Rita não sossega, nem teria como. A casa é pequena para quatro pessoas. Vivem ela, o marido, a sua filha, de 14 anos, e uma irmã.
“Partilhamos tudo. A minha irmã dorme nesta caminha, enquanto eu, o meu marido e a nossa filha dormimos na mesma cama”, revelou.
A família de Rita faz parte dos 30% da população que o Ministério da Economia e Finanças diz que vive em casas sem revestimento no piso. Já o Inquérito ao Orçamento Familiar (IOF 2022) diz que Rita faz parte de cerca de 2,4 milhões de moçambicanos cujas casas têm paredes de caniço, bambu ou palmeiras.
O caso da família de Rita acaba por ser um fracasso para o seu chefe, Pereira Sebastião, de 55 anos de idade. Pereira até perdeu a capacidade de sorrir porque a felicidade é um termo que se substituiu por preocupação no vocabulário do chefe de família.
“Trabalho, mas parece que não trabalho”.
O que parece incomodar mais é que, a partir da sua casa, observa aqueles cuja vida parece estar a andar melhor do que a dele. São
as pessoas que passam pela estrada de carro.
“Gostaria de ser como eles que passam num belo carro ou numa motorizada”, manifesta-se enquanto segura na sua cintura e observa a estrada.
Não, não é um discurso de quem tem inveja dos outros, é de quem sente na pele as desigualdades que o Ministério da Economia reconhece que só aumentaram de 2015 para 2020. “Sinto que a diferença entre mim e eles só aumenta. Quando vejo a minha idade, sinto que sou capaz de acabar assim”.
O IOF 2022 não tem dados que contrarie o nível de desigualdade. Segundo o documento, os 10% mais pobres de Moçambique são responsáveis apenas por 0,9% dos gastos do país, enquanto os 10% mais ricos consomem 43,1% da riqueza nacional.
TRABALHAR PARA COMER E APANHAR CHAPA
O IOF 2022 tem dados sobre com que cada um gasta o pouco que tem. Em geral, 38% da renda dos moçambicanos é gasta em alimentação e bebidas não alcoólicas. Se separarmos os números, vemos que os que vivem nas cidades gastam menos (27%) do que os que estão nas zonas rurais (49%).
Paito Sumail sabe bem do que é que estamos a falar. A vida já é, para ele, difícil, mas há o que toma a dianteira. “O mais difícil são as despesas”. É que Paito é a única fonte de renda fixa e que deve sustentar o seu irmão e sua cunhada.
“Eu gasto tudo o que ganho com rancho e quase nunca resta dinheiro de chapa. Às vezes, tenho de sair da zona de Trevo, minha casa, para Alto-Maé a pé por não ter dinheiro de transporte”.
Mesmo assim, não há garantias de uma alimentação constante. Por exemplo, sobre a última refeição, “foi ontem às 10h e não sei a que horas vamos comer hoje”, revela.
É uma incerteza de todos os dias. A única coisa que garante é que sempre há pelo menos uma refeição. Isso quer dizer que faz parte do grupo dos 11,7% dos cidadãos que têm apenas uma refeição por dia, contra 0,9 por cento que não têm nenhuma, 57,5 que têm duas e 30,1% com três ou mais, ou seja, apenas cerca de nove milhões de moçambicanos têm três refeições, isso de acordo com o IOF de 2022.
Ainda assim, a crença na educação acaba por ser um único sinal de luz no fundo do túnel. Silvinho, por exemplo, procura não fazer parte dos actuais 38,3% dos moçambicanos analfabetos e começa a exercitar mesmo que não tenha chegado à sua idade escolar.
Para todos os efeitos, o Ministério da Economia e Finanças não olha para estes problemas com agrado. Por isso, desenhou a proposta de Estratégia Nacional de Desenvolvimento 2024-2043. São, no total, 13 metas. Mas destacamos quatro, que respondem aos problemas apresentados nesta reportagem: (i) reduzir a taxa de analfabetismo de 38,3% para 19,3%; (ii) reduzir a proporção da população que vive abaixo da linha de pobreza nacional de 68,2% para 27,9%; (iii) reduzir o índice de desigualdade de cinco para três e (iv) melhorar a capacidade de previsão e resposta a eventos extremos (cheias, secas, etc.) de cinco para dois dias.
É possível chegar em 20 anos? As respostas virão sempre do tempo.
⛲: O país
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