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Estudo revela que jovens moçambicanos, etíopes, zimbabuanos e ugandeses sentem que não têm voz significativa



Segundo a investigação, os esforços para capacitar os jovens podem ser facilmente manipulados para servir os interesses do regime.

Os jovens moçambicanos, etíopes, zimbabueanos e ugandeses sentem-se ofendidos por as oportunidades de emprego estarem canalizadas para apoiantes do regime nos respetivos países e notam que não têm uma voz significativa, segundo um estudo.

Uma investigação desenvolvida por Lovise Aalen e Marjoke Oosterom, que analisa a relação entre a população jovem em África e os regimes autoritários, publicado no The Conversation, indica que "as instituições que foram criadas para permitir a participação dos jovens foram agregadas" e não são independentes dos governos.

De acordo com as conclusões do estudo, alguns jovens expressam a sua insatisfação em protestos pró-democracia - como aconteceu em Moçambique, em outubro de 2023 -, mas, de forma geral, os jovens africanos "não estão a salvar a democracia", nem estão a contrariar "a tendência de aprofundamento da autocratização no continente, onde os governos em exercício têm concentrado cada vez mais o poder".

As autoras dão como exemplo o que se tem passado em Moçambique, no Zimbabué, na Etiópia e no Uganda. 

Em Moçambique, a Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO) ganhou todas as eleições desde 1994, ano das primeiras eleições multipartidárias.

A investigação conclui que o partido concentrou o poder e os recursos nas mãos da elite política, que os jovens continuam a estar sub-representados e têm sérias dificuldades em aceder aos recursos.

Este facto, segundo as autoras, além de outras dinâmicas de conflito, contribuiu para uma insurreição na região norte de Cabo Delgado a partir de 2017.

No Zimbabué, o Zanu-PF está no poder desde a independência do país em 1980 e, segundo o estudo, usa o facto de ter participado na guerra de libertação, na década de 1970, para manter o seu poder. Cria narrativas em torno da história da libertação do país e do patriotismo, e acusa a geração "nascida livre" de trair a guerra de libertação.

Isto descredibiliza qualquer descontentamento que os jovens zimbabueanos possam sentir, salientam.

Os protestos liderados pelos jovens na Etiópia contribuíram para a queda, em 2018, do partido que governava desde 1991 e conduziram Abiy Ahmed ao poder. A mobilização entre os jovens foi silenciada desde então, segundo as autoras.

"Só os partidários têm acesso aos programas de criação de emprego. Tem havido também uma militarização dos movimentos étnicos dominados pelos jovens. Foi o que aconteceu, por exemplo, com o grupo Fano Amhara na guerra de Tigray em 2020-2022", segundo o estudo.

O Uganda foi pioneiro na institucionalização da participação dos jovens na tomada de decisões. Todavia, o envolvimento dos jovens nas estruturas políticas é considerado um instrumento de controlo do Governo ugandês, de acordo com a investigação.

Segundo a investigação, em contextos autocráticos como os citados, os esforços para capacitar os jovens podem ser facilmente manipulados para servir os interesses do regime.

Alguns jovens podem aproveitar as oportunidades oferecidas, enquanto outros podem resistir-lhes. Alguns aproveitam as oportunidades, esperando que sirvam os seus próprios interesses e não os do regime. No entanto, isto pode reproduzir formas de clientelismo, salienta.

África é o continente com a maior população jovem do mundo. Estima-se que, em 2030, 75% da população africana terá menos de 35 anos. Prevê-se também que o número de jovens africanos com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos atinja os 500 milhões em 2080.

O Níger é o país mais jovem do mundo, com uma idade média de 14,5 anos, enquanto a África do Sul, as Seicheles, a Tunísia e a Argélia têm idades médias superiores a 27 anos.

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