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Renamo “em guerra geracional” pelo controlo do partido

  


Está aberta a guerra entre membros da Renamo pelo controlo do maior partido da oposição no xadrez político moçambicano. Em causa está o projecto da ala mais conservadora e “tradicional” da “perdiz” em manter Ossufo Momade na liderança do partido sem recurso a qualquer votação, facto contestado pela ala mais jovem, que exige a realização de eleições, visto que o mandato de Ossufo Momade termina no próximo dia 17 de Janeiro.

A troca de palavras entre membros do maior partido da oposição teve seu início na última quarta-feira, quando o porta-voz da Renamo, José Manteigas, anunciou o actual Presidente do partido como candidato único às eleições presidenciais do dia 09 de Outubro deste ano. José Manteigas defende que Ossufo Momade foi o responsável pelos resultados eleitorais conseguidos pela Renamo no escrutínio do dia 11 de Outubro de 2023.

Estas declarações não foram do agrado de parte dos membros da Renamo, que entendem que o candidato presidencial deve ser eleito pelos órgãos do partido, facto que ainda não aconteceu. Manuel de Araújo, Edil de Quelimane, e Venâncio Mondlane, deputado e relator da bancada parlamentar da Renamo na Assembleia da República, acusam José Manteigas de ter violado os estatutos da “perdiz”.

Os dois políticos, que representam a ala mais jovem do partido, defendem que o candidato às eleições presidenciais deve ser legitimado pelos membros do partido, em sede do Congresso, e não pela Comissão Política do Partido.

“Como licenciado em Direito, [José Manteigas] sabe muito bem que actos desta natureza só são válidos a partir de uma deliberação e não de uma conversa de café ou circunstancial. Logo, todo o tipo de deliberação vincula um determinado órgão”, afirmou Venâncio Mondlane aos jornalistas, na última sexta-feira.

“Se fores a ler os estatutos do partido, vais notar que ou o meu amigo Manteigas não conhece os estatutos ou violou-os de forma flagrante. O Conselho Jurisdicional [liderado por Saimone Macuiana] deve pronunciar-se. A Renamo é o pai da democracia e ser pai da democracia significa cumprir os preceitos democráticos”, sublinhou Manuel de Araújo, em declarações à STV.

Na conferência de imprensa concedida aos jornalistas na última sexta-feira, após submeter um recurso ao Tribunal Administrativo contra o Conselho Constitucional por se recusar a aclarar o Acórdão que valida as eleições de 11 de Outubro, Venâncio Mondlane admitiu a possibilidade de candidatar-se à presidência da Renamo.

“Os pronunciamentos do Dr. Manteigas acabaram, em certa medida, sendo um catalisador para a reflexão que eu estava a fazer. Dentro de dias, eu vou dizer, de forma clara e directa, qual é a minha decisão em relação à minha candidatura ou não à presidência da Renamo. Agradeço o Dr. Manteigas porque ele foi o catalisador para que a minha reflexão seja mais rápida”, disse Venâncio Mondlane.

As declarações do cabeça-de-lista da Renamo na cidade de Maputo nas VI Eleições Autárquicas de 2023 não agradaram a ala “conservadora” do partido e mais próxima de Ossufo Momade, que tratou de respondê-lo.

José Manteigas defende que a Renamo não se guia por opiniões de pessoas, pois, tem órgãos, tem sua filosofia política, sua orientação política e objectivos bem claros: “governar e governar bem Moçambique”.

“O Presidente Ossufo Momade está a trazer resultados no partido. Portanto, não é um indivíduo que tem interesses pessoais que vai chegar na Renamo dizer que, a partir de hoje, eu quero dirigir a Renamo. Para ser presidente da Renamo, você tem que ter história na Renamo”, disse José Manteigas, em debate televisivo na TV SUCESSO.

Lembre-se que Ossufo Momade foi eleito presidente da Renamo a 17 de Janeiro de 2019, durante a realização do VI Congresso daquela formação política, que teve lugar na Serra da Gorongosa, província de Sofala. Momade ganhou o escrutínio com 410 votos, contra 238 obtidos por Elias Dhlakama, irmão do histórico líder da Renamo Afonso Dhlakama, falecido a 3 de Maio de 2018.

Entretanto, quando faltam menos de 10 dias para o fim do mandato de Ossufo Momade, ainda não se sabe quando a Renamo realizará o seu Congresso, o sétimo da sua história, num ano em que se realizam as eleições presidenciais, legislativas e provinciais.

Aliás, Manuel de Araújo disse à STV ter alertado o Presidente da Mesa do Conselho Nacional da Renamo, Leopoldo Ernesto, em Dezembro último, dos timings que o partido tinha para convocar o Congresso, visto que o mandato do actual Presidente estava prestes a findar, mas sem sucesso.

Refira-se que o mandato de Ossufo Momade foi marcado por contestações, tanto da ala militar, assim como da ala política, devido à sua suposta inércia na resolução dos problemas do partido. Recorde-se que a Junta Militar da Renamo, criada e liderada por Mariano Nhongo em Junho de 2019, surgiu em contestação à liderança de Ossufo Momade, que subiu de tom após as eleições autárquicas de 11 de Outubro, em que a Renamo foi atribuída quatro municípios pelo Conselho Constitucional, de mais de uma dezena em que reclamava vitória

⛲ Cartamoz 

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