DESTAQUE

Nyusi despede-se Hoje dos moçambicanos

A história de um bebé nascido em pleno ataque terrorista


Nem a mata, nem a noite, muito menos o perigo conseguiram impedir a vinda ao mundo de Salimo Abdala, bebé cuja mãe deu à luz sozinha, fugindo dos terroristas na Vila de Palma. Uma história de emoção e esperança no meio do terror que se vive naquele distrito da província de Cabo Delgado.

A mãe chama-se Fato Abdula, tem 29 anos. O bebé, tranquilo, carinha de anjo, passa a chamar-se Salimo Saíde, nome do avô.

Quase recuperada, a mãe de quatro filhos conta que, no dia 24 de Março, quando os terroristas atacaram Palma estava grávida, tendo-se perdido do marido e dos seus três filhos.

A mulher percorreu a mata por dias, na companhia dos outros deslocados, mas acabaria por ser abandonada, porque não conseguia correr. Dois dias depois, ainda na mata, entrou em trabalho de parto.

“Quando anoiteceu, fiquei sozinha e comecei a sentir dor. Senti como se estivesse a urinar, enquanto a criança estava perto. Fiz o parto sozinha e arranjei um pau, quebrei-o para cortar o cordão umbilical. Enterrei a sujidade e a criança ficou a chorar até amanhecer”.

Acabou por ser socorrida pelo mesmo grupo que a tinha abandonado, permaneceram nas matas durante mais dois dias até que foram resgatados no Rio Rovuma.

O pequeno Salimo está saudável. Dormia enquanto gravávamos a entrevista, mas conseguiu esboçar um sorriso. O momento que se vive em Cabo Delgado é de tensão, porém não abafa os sonhos que esta mãe tem para com o seu filho.

“O bebé está bem, não teve nenhum problema de saúde desde que chegámos aqui. Gostaria de fazer uma festa de aniversário no dia em que ele nasceu. Espero que ele estude e seja alguém no futuro”.

Mas a esperança sobre o futuro logo se apaga, quando se lembra da família perdida. Interrompeu a entrevista para mostrar-nos uma fotografia da filha mais velha e o Cartão de Eleitor do marido na expectativa de ajudarmos a localizá-los.

“Não sei se os meus filhos vão encontrar-se com o pai ou o meu marido virá para ver o filho. Peço ajuda para saber onde o meu marido e as crianças estão”

São vidas, rostos inocentes em ambiente de conflito.

Enviar um comentário

0 Comentários