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Crianças da rua travam “guerra” com o recolher obrigatório em Nampula




Sem lar e nem alternativas para abrigo, crianças de rua na cidade de Nampula, maior autarquia do norte do país, têm sido parte das vítimas da medida do recolher obrigatório em vigor no país por forma a reduzir a propagação da covid-19.
Para escaparem de situações humanas e da natureza, no intervalo das 22h as 4h, essas crianças são obrigadas a deambularem pelas ruas da urbe, mas sucede que devem disputar a sua tranquilidade com agentes da Polícia da República de Moçambique (PRM), que a todo o custo procuram fazer cumprir o decreto que estabelece a situação de calamidade pública em consequência da pandemia da covid-19.

Parte significante destas crianças vivem na rua por falta de um ambiente familiar digno e protector, por isso algumas delas contam que são órfãos, que sofriam maus tratos ou então que foram expulsas de casa por motivos banais.

Com 1 anos de idade, o menino Mito que encontrou abrigo em edifício abandonado no centro da cidade, conta que que nunca antes tinha sentido tanto medo de estar na rua durante o período em alusão (22h-4h), ainda que reconheça que “viver na rua não é boa coisa”, justificando que “eu estou aqui porque minha tia me batia sempre, mas há muito tempo, antes do coronavírus, dormíamos e passeávamos a vontade, agora tenho medo da polícia, sempre que vejo o carro ou um agente tenho que me esconder para que ele não me recolha para a esquadra”.
esconder para que ele não me recolha para a esquadra”.


 
Quem partilha a mesma dificuldade é o menor Tomás Suleimane, que aponta que “antes do coronavírus pedíamos esmolas as pessoas, mas esses dias quando nós aproximamos as pessoas logo nos insultam e discriminam a dizer que nós já temos coronavírus”. “Eu assisti duas vezes a polícia a recolher pessoas na rua, eles não têm paciência, recolhem tipo lixo”.

“A rua é a nossa casa e a polícia deveria levar em consideração”, entende o menor Eugénio Luís, prosseguindo que “apesar de que ainda não fui apanhado pela polícia, tenho medo de um dia ser recolhido”, porque “tenho visto esses dias a polícia recolhe até pessoas que estão no carro e na motorizada, imagina nós, os meninos de rua, eles não terão pena de nós”.

A situação da covid-19, também, está a contribuir na redução das fontes de sobrevivência destas crianças em situação de vulnerabilidade, e Caetano Afonso refere que “já não temos acesso a muita coisa aqui na rua, porque quando nos aproximamos das pessoas logo pensam que somos o próprio coronavírus. Os bares e as discotecas onde ficávamos fora para ajudar alguns bêbados a procura de táxi, em troca de dinheiro, já estão encerradas e sem contar com a polícia que agora está a recolher todo mundo na rua depois das 22h”.

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