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Nyusi despede-se Hoje dos moçambicanos

O insatisfeito da FRELIMO com a escolha de Chapo


Analistas consideram que a FRELIMO enfrenta uma viragem com a vitória inesperada de Daniel Chapo como candidato presidencial. Secretário-geral Roque Silva foi afastado e deixou o cargo.

Roque Silva pretendia ser o candidato presidencial da Frente de Libertação de Moçambique (FRELIMO), mas chumbou na eleição e acabou por renunciar ao cargo de secretário-geral e de membro da Comissão Política do partido no poder.

Para vários analistas, este era um desfecho previsível, dada a popularidade do político. Hilário Chacate, por exemplo, entende que o mandato de Roque Silva indicava um perfil ditatorial.

"O seu percurso como secretário-geral da FRELIMO foi caraterizado por grandes controvérsias, uma postura que é interpretada como arrogante, discursos que demonstram uma postura de um potencial presidente ditador", afirma.

É um perfil que não se adequa ao momento que a FRELIMO e o país vivem, considera outro analista político, Ernesto Júnior, que refere que uma indicação de Roque Silva como candidato seria "impensável"

"Como se trata de um jogo político, nem tudo o que se vê à superfície é realmente verdade. Neste momento, Filipe Nyusi e o secretário-geral não são bem vistos pelos moçambicanos. Por isso, era momento de uma virada histórica", julga.

Acomodar os derrotados

Para além de Roque Silva, ficaram pelo caminho membros da FRELIMO como José Pacheco, Hama Thai e Samora Machel Júnior, que já tinham manifestado publicamente a intenção de entrar na corrida presidencial.

O jornalista Omardine Omar diz que a futura liderança do partido terá de encontrar formas de lidar com estas figuras.

"Se estas pessoas não forem acomodadas dentro do partido, poderemos ter situações tenebrosas. Então, penso que a FRELIMO terá de encontrar uma forma de resolver internamente os seus problemas, porque existem cotas de governação dentro do partido," aponta o jornalista.

O que está a "tramar" a FRELIMO?

Também o analista político Wilker Dias alerta para a necessidade de reaproximação entre estas figuras de peso, a tempo das eleições gerais, agendadas para 9 de outubro.

"Se houver respeito, se houver consideração e humildade, acredito estarão criadas as condições para evitar convulsões internamente. Essa proximidade será extremamente importante para a coesão do partido", alerta Wilker Dias.

Desafios de Chapo

E como será a relação entre o candidato presidencial eleito, Daniel Chapo, e o atual líder da FRELIMO e Presidente da República, Filipe Nyusi? Como será a relação com o resto do partido, no poder desde a independência, em 1975, e que se enraizou?

Os analistas ouvidos pela DW vislumbram desafios muito fortes para o candidato da FRELIMO, caso seja eleito. Segundo Omardine Omar, ele "vai encontrar uma FRELIMO fragmentada, sem princípios, uma FRELIMO usurpada pelos grupos de interesse, de narcotráfico, tráfico de ouro e rúbis, e pelos grupos que assaltaram o Estado nos últimos anos".

O jornalista considera que "Daniel Chapo tem tudo para dar certo e tem tudo para dar errado, dada a sua capacidade de ver e aceitar ou negar esses grupos".

Em caso de eleição, em outubro, Daniel Chapo também poderá enfrentar entraves se Filipe Nyusi se mantiver na presidência do partido até ao término do seu mandato, previsto para 2027.

Historicamente, o Presidente da República é também presidente do partido e, neste sentido, o analista Hilário Chacate tem algumas dúvidas sobre uma saída pacífica de Filipe Nyusi.

"Tenho a impressão de que Filipe Nyusi poderá manifestar uma grande resistência em ceder a sua posição como presidente da FRELIMO e Daniel Chapo poderá ter dificuldades, caso não consiga assumir a Presidência da República e a da FRELIMO em simultâneo", conclui.

⛲ Dw

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