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O que o "triunfo" dos Talibãs no Afeganistão pode significar para África?


O retorno do Talebãs ao Afeganistão apanhou o mundo de surpresa. Em África, aumenta a preocupação e o receio dos países que lutam para esmagar as insurgências islâmicas. Moçambique é um dos palcos da ação extremista.

Há crianças entre os combatentes do al-Shabab na Somália (foto ilustrativa)

Pelo menos, 47 pessoas, incluindo 30 civis, 14 militares e três mercenários do exército, foram mortos num ataque a uma caravana militar que escoltava civis no norte do Burkina Faso, revelou esta quarta-feira (18.08) o Governo.

Há suspeitas de que seja uma ação levada a cabo por terroristas islâmicos, porque os militantes ligados à Al-Qaeda e ao grupo Estado Islâmico (EI) têm visado, cada vez mais, as forças de segurança do país da África Ocidental.

A chegada ao poder dos talibãs no Afeganistão faz aumentar a preocupação dos países africanos que lutam contra os insurgentes islâmicos.

O Secretário-Geral da ONU, Antonio Guterres, alertou para uma "alarmante" expansão de filiados do chamado "Estado Islâmico" por toda África, à custa da situação no Afeganistão.

Kwesi Aning, diretor do Centro Internacional de Formação de Manutenção da Paz Kofi Annan, no Gana, para os assuntos académicos e de investigação, concorda com Guterres ao considerar que "a tomada de Cabul pelos Talibãs é uma situação muito infeliz".

Falso sentido de legitimidade

Aning entende que tem sérias implicações para a segurança dos países que lutam contra o extremismo em África e "tem uma tendência para incentivar os grupos extremistas. Uma tendência para oferecer não só esperança, mas também algum sentido de legitimidade, um falso sentido de legitimidade a estes grupos terroristas em África que procuram especialmente derrubar os governos nacionais".

Desde que os talibãs assumiram o poder no Afeganistão, no domingo (15.08), tem surgido alguns sinais considerados de apoio aos talibãs na imprensa ligados ao grupo que tem protagonizado ataques na Somália, o al-Shabab, nota o analista político Ahmed Rajab.

"Penso que os elogios que lhes são feitos por grupos como al-shabab são atos isolados. Porque estão interessados em mostrar que estão de novo no topo do mundo, que têm apoiantes e apoiantes importantes. Mas ainda não estamos seguros da ligação entre os Talibãs e al-Shabab. Ainda é cedo para tirarmos estas conclusões", avalia.

O Al-Shabab há muitos anos que luta para derrubar o Governo da Somália apoiado pela ONU e impor a lei Sharia rigorosa no país. O grupo tem estado por detrás de ataques mortais na Somália e na região da África Oriental. Da mesma forma, o grupo Boko Haram da Nigéria tem estado por detrás da morte de dezenas de milhares de pessoas e da deslocação de milhões de pessoas na África Ocidental.

Os islamistas também estão ativos na região do Sahel e em partes da sub-região da África Ocidental.

Ahmed Rajab, analista político

Em Moçambique, os insurgentes têm causado estragos na provincia nortenha de Cabo Delgado. Os extremistas islâmicos também operam em partes da República Democrática do Congo (RDC).

O Burkina Faso tem enfrentado ataques jihadistas regulares e mortais desde 2015, particularmente nas regiões norte e leste, próximas do Mali e do Níger, que também enfrentam ações mortíferas por parte de 'jihadistas' armados.

Extremistas estão a substituir os serviços do Estado

O analista político Kwesi Aning salientou a necessidade de medidas para proteger a África contra quaisquer novas ameaças que possam surgir como resultado da atual crise afegã.

"No fim de contas, os Governos precisam de proporcionar às comunidades africanas melhores condições de vida, mais do que estes grupos extremistas podem proporcionar-lhes", defende.

E o diretor nota ainda que "em muitos casos, se formos aos estados afetados pelo terrorismoem todo o continente africano, vemos que estes grupos militantes estão de facto a substituir os serviços do Estado, quer na prestação de serviços judiciais, quer na prestação de serviços sociais, falta uma boa governação, o que faz com que os terroristas ganhem mais apoios".

A França anunciou que até 2022 irá reduzir a sua presença militar na região do Sahel com o processo de encerramento das suas bases no norte do Mali previsto para o final de 2021.

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