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Jihadistas de Moçambique levam o terrorismo à porta da África do Sul

 


Embora o governo sul-africano esteja diplomaticamente concentrado na Faixa de Gaza e acusando o Israel de genocídio no Tribunal Internacional de Justiça, em grande parte é indiferente ao assassinato e ao caos perpetrados por terroristas na sua fronteira oriental, escreve Steven Gruzd, chefe do programa africano de governação e diplomacia e Projecto Rússia-África no Instituto Sul-Africano de Assuntos Internacionais (SAIIA).

Outrora um refúgio de estabilidade num continente turbulento, a África Austral tem estado a recuperar de uma influência islâmica em Moçambique desde 2017. Nas últimas semanas, aponta Gruzd, os rebeldes jihadistas al-Sunna wal-Jamma (ASWJ), também conhecido como Estado Islâmico de Moçambique, queimaram igrejas, mataram cristãos e deslocaram milhares de pessoas nos distritos de Macomia, Chiúre e Mecufi, na problemática província nortenha de Cabo Delgado.

O facto representa uma ameaça significativa, embora indirecta, para a África do Sul, concordam os analistas.

O Professor Hussein Solomon da Universidade de Free State diz por exemplo: “Em 2017, a violência [no norte de Moçambique] veio de um pequeno grupo de salafistas [islamitas fanáticos] e a comunidade local – colegas muçulmanos – pediram ao governo que se envolvesse. Esses rebeldes usam o Islão como veículo de mobilização política”.

Por seu turno, Tomás Queface, analista baseado em Moçambique, refere: “Os ataques às igrejas em Cabo Delgado não são uma nova característica do conflito. Os insurgentes queimaram igrejas na província de Nampula em 2022.

Desta vez, os insurgentes iniciaram o que chamaram de 'campanha de pregação' no distrito predominantemente cristão de Chiúre, o que os levou a matar e queimar igrejas ali situadas, e isto leva a questionar a capacidade das forças moçambicanas para responder à ameaça do Estado Islâmico.

“Ataques a cristãos não são algo novo”, disse o Professor Theo Neethling, do departamento de política, estudos e governação da Universidade de Free State.

“Muitos habitantes locais, incluindo cristãos e muçulmanos, não acolheram as opiniões do movimento ASWJ no passado, e isso resultou em conflito. Tentou forçar os habitantes locais a seguirem as suas crenças radicais e impediu que os aldeões fossem aos hospitais e escolas, que o movimento interpretou como secular e não-islâmico."

Jasmine Opperman, especialista em extremismo em África, diz que os últimos ataques demonstraram uma cooperação bem coordenada, estimando que entre 500 a 800 insurgentes estejam activos em Cabo Delgado. “O impulso para o sul foi claramente direccionado a alvos específicos”, disse Opperman. Mais de 12 igrejas foram destruídas e a N1, principal estrada que liga Cabo Delgado ao resto de Moçambique, foi alvo.

“A insurgência de Cabo Delgado evoluiu para uma explosiva presença extremista islâmica que está ligada ao Estado Islâmico”, diz Opperman, “mas ainda temos pessoas tentando negar esta realidade. Vimos decapitações e isto faz parte da máquina de propaganda do Estado Islâmico para enviar mensagens. Os insurgentes nasceram e foram criados nessas comunidades, daí que a sua interacção com comunidades é muito mais fácil.” No entanto, Opperman disse que não há ligações conhecidas entre o ASWJ e o Irão ou Hamas.

Neethling diz que é quase impossível dizer se há conexões entre a ASWJ e o mundo exterior, “porque na verdade sabemos pouco sobre esse movimento".

Há relatos de que a Missão Militar da Comunidade de Desenvolvimento da África Austral em Moçambique (SAMIM) desde 2021 vai retirar-se gradualmente até Julho. 

Opperman afirma que, sem a SAMIM e as forças ruandesas em Moçambique, a situação seria pior. Mas ela citou a falta de partilha de inteligência e coordenação entre as várias forças em Moçambique como problemática.

Então, estará a África do Sul em risco significativo? E estará a fazer o suficiente para combater os extremistas?

Para Neethling, “a ameaça à África do Sul é indirecta. Pela primeira vez, temos uma insurgência no sul da África”, uma sub-região africana considerada desde há muito tempo mais estável.

"Estranhamente, a força da SADC não consegue controlar a questão no norte de Moçambique, sendo que o conflito continua activo”.

Um jornalista investigativo expôs o apoio que os insurgentes recebem de áreas ao redor de Mbombela [anteriormente Nelspruit]. Isso também é uma preocupação.” Os fluxos financeiros para Moçambique provenientes da África do Sul vêm acontecendo há anos, mas são mínimos.

O analista Tomás Queface observa: “Este é um assunto complicado porque os insurgentes estão confinados ao norte de Moçambique. Mas o Estado Islâmico é um grupo internacional e tem ligações com a África do Sul, Tanzânia e República Democrática do Congo. A ameaça potencial é ter alguns cidadãos sul-africanos envolvidos na luta contra os terroristas em Moçambique, mas nada indica que haja uma possibilidade real desta insurgência se espalhar para países da região, com excepção da Tanzânia, que faz fronteira com Cabo Delgado.”

“Quanto às ameaças à África do Sul, se estivermos falando sobre a repercussão directa da violência – não”, concorda Opperman. “Por enquanto, a violência em Cabo Delgado continua localizada quanto à presença e objectivos.

Solomon diz: “A África do Sul faz parte da SAMIM e os insurgentes ameaçaram o país. Existem células do Estado Islâmico na África do Sul. Sempre existe esse perigo, especialmente quando os serviços de segurança sul-africanos se mostram ineptos.”

Mas a África do Sul negligencia esta ameaça por sua conta e risco.

 ⛲ Cartamoz 

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